segunda-feira, 18 de março de 2024

Po.e.mas Sol.tos


Astronomia

Vou buscar uma das estrelas que caiu

do céu, esta noite. Ficou presa a um

ramo de árvore, mas só ela brilha,

único fruto luminoso do verão passado.

Ponho-a num frasco, para não se

oxidar; e vejo-a apagar-se, contra

o vidro, à medida que o dia se

aproxima, e o mundo desperta da noite.

Não se pode guardar uma estrela. O

seu lugar é no meio de constelações

e nuvens, onde o sonho a protege.

Por isso, tirei a estrela do frasco e

meti-a no poema, onde voltou a brilhar,

no meio de palavras, de versos, de imagens.

                                                                                  Nuno Júdice



Nuno Júdice é um ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e obteve o grau de Doutor pela Universidade Nova.

Nasceu a 29 Abril 1949 

Morreu em 17 Março 2024

terça-feira, 5 de março de 2024

EFEMÉRIDES À MESA

A PRIMAVERA JÁ CHEGOU À NOSSA BIBLIOTECA



PÁSCOA

Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI