sábado, 27 de dezembro de 2014

Escritor do mês: Jorge Amado


Nascido em Itabuna a 10 de agosto de 1912 e falecido em Salvador a 6 de agosto de 2001, Jorge Amado foi um dos mais ilustres representantes literários da língua de Camões, tendo escrito 22 romances e feito ainda incursões em géneros diversos como a poesia, a biografia, o guia turístico, o teatro, a literatura de viagens, os contos, as memórias, a literatura infantil, a fábula e a historieta infanto-juvenil no conhecido O gato malhado e a andorinha Sinhá
Tendo-se estreado em 1931 com o romance O país do Carnaval, entre as suas obras mais conhecidas, editadas em 80 países e traduzidas em 49 línguas, inclusive em Braille, contam-se Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia, Terras do Sem-Fim, Gabriela, cravo e canela, Tenda dos Milagres e Tocaia Grande. Alguns dos seus trabalhos foram, inclusive, adaptados com grande sucesso à televisão (Gabriela, cravo e canela - três vezes -, Capitães da Areia e Tieta do Agreste) e ao cinema (Dona Flor e os Seus Dois Maridos, com cerca de 10 milhões de espetadores, mais tarde também minissérie e peça teatral). As suas obras podem dividir-se em duas fases sensivelmente distintas: uma primeira de maior cunho social e político e uma outra em que começou a inserir crónicas nos seus textos.
Esquerdista e materialista convicto, praticava, no entanto, a Umbanda e o Candomblé, rituais de origem mista, entre o cristianismo e as crenças africanas, oriundas da Baía. Em resultado das suas convicções esteve exilado no Sudão e no Uruguai (em 1941 e 1942), em Paris (entre 1948 e 1950) e em Praga (em 1951 e 1952). 
Obteve uma cadeira na Academia Brasileira de Letras em 1961 e ganhou inúmeros prémios literários, incluindo o Prémio Camões, em 1994, foi doutorado honoris causa em 10 universidades, Portugal incluído, e teve direito a um selo comemorativo do centenário do seu nascimento. 
Do seu círculo de amigos fizeram parte personalidades como Fellini, Moravia, Picasso, Yves Montand, Oscar Niemeyer (o arquiteto que se celebrizou com a conceção de Brasília), Vinicius de Moraes, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, entre outros.
Antreiormente internado com uma crise de hiperglicemia, veio a falecer de paragem cardiorrespiratória, tendo os seus restos sido cremados e as cinzas enterradas na sua casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
Presenteamo-vos hoje com um pequeno conto do autor e o convite para um aprofundamento da vasta obra que nos legou...

Nem a Rosa, nem o Cravo…

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u’a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.
Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes.
Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só 0 ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só 0 ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo – desde o crepúsculo aos olhos da amada – sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.
Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Concurso de Quadras de São Martinho

Decorreu, uma vez mais, na nossa escola, o concurso de Quadras de São Martinho. A colaboração dos professores foi inexcedível e a adesão por parte dos alunos massiva. Parabéns a todos os jovens poetas que se inspiraram nesta quadra, cuja lenda nos transmite uma lição de solidariedade.

Segue-se uma compilação dos textos vencedores:

ENSINO BÁSICO

1º classificado:

Ao longe sente-se o cheiro!
Ao longe vê-se um fuminho!
É a festa da castanha,
É o dia de S. Martinho!
       
                               Carolina Moreira - 9º B

2º classificado: 

Quem diria que aquele nobre
Valente, de nome Martinho
Daria a sua capa ao pobre
Em vez de seguir caminho.

                               Ana Margarida, 9º B

3º classificado: 

Apesar do frio e desconforto
Estamos todos juntos a festejar
Não é a festa que importa
Mas, sim, o amor que temos p’ra dar

                              Ruben Silva, Mariana Duarte - 8º H


ENSINO SECUNDÁRIO

1º classificado:

Como bom soldado que sou,
Um mendigo ajudei.
Agora o Magusto acabou,
Para França voltarei.
                              
                             Paula Ribeiro - nº 22 - 10º G

2º classificado:

O bom cavaleiro Martinho,

Que gostava de repartir,
Cortou a sua capa ao meio,
Para o mendigo cobrir.


Lá estava um pobre mendigo

Num dia tempestuoso
S. Martinho deu-lhe abrigo
E apareceu um sol maravilhoso.

                               André Maia - 10º A

3º classificado:

Dia 11 de S. Martinho
Vamos todos festejar
Tomando um bom vinho
E com castanhas a acompanhar

Para as castanhas comer

E o magusto realizar
Para a tradição manter 
E nunca se acabar.


Tudo isto é São Martinho
                 Dentro do meu coração                
                              Para nunca esquecer                                

         E manter a tradição.          


                             Gonçalo Truta - 10º A