terça-feira, 21 de março de 2023

Po.e.mas Sol.tos

 Celebrando a Poesia e a Chegada da Primavera



Agora, de Miguel Torga

Abre-te, Primavera!

Tenho um poema à espera

Do teu sorriso.

Um poema indeciso

Entre a coragem e a covardia.

Um poema de lírica alegria

Refreada,

A temer ser tardia

E ser antecipada.

Dantes, nascias

Quando eu te anunciava.

Cantava,

E no meu canto acontecias

Como o tempo depois te confirmava.

Cada verso era a flor que prometias

No futuro sonhado…

Agora, a lei é outra: principias,

E só então eu canto confiado.


Quero apenas cinco coisas, de Pablo Neruda


Quero apenas cinco coisas.

Primeiro é o amor sem fim

A segunda é ver o outono

A terceira é o grave inverno

Em quarto lugar o verão

A quinta coisa são teus olhos

Não quero dormir sem teus olhos.

Não quero ser… sem que me olhes.

Abro mão da primavera para que continues me olhando.


Canção de Primavera, de José Régio


Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,

Pois que Maio chegou,

Revesti-o de clâmides de cores!

Que eu, dar, flor, já não dou.


Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,

Acordai desse azul, calado há tanto,

As infinitas naves!

Que eu, cantar, já não canto.


Eu, Invernos e Outonos recalcados

Regelaram meu ser neste arrepio…

Aquece tu, ó sol, jardins e prados!

Que eu, é de mim o frio.


Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,

Vem com tua paixão,

Prostrar a terra em cálido desmaio!

Que eu, ter Maio, já não.


Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;

Ter sol, não tenho; e amar…

Mas, se não amo,

Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,

E não por mim assim te chamo?

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