segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Um poeta, um poema - 3


Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais importantes figuras da poesia portuguesa do século XX, nasceu no Porto em 1919 e veio a falecer em Lisboa em 2004, encontrando-se no Panteão Nacional desde 2014.
Geralmente conhecida nas nossas escolas pelos seus contos infantis (oito ao todo), publicou igualmente 22 obras de poesia, 2 livros de contos, teatro e ensaios, para além de ter sido tradutora de Dante e de Shakespeare.
Sophia foi uma forte detratora do regime salazarista e da hipocrisia social, o que é manifesto em muitos dos seus poemas. Condecorada por três vezes, foi ainda ganhadora de diversos prémios literários, dos quais destacamos o Pémio Camões, em 1998, e o Prémio Rainha Sofia, em 2003.
Homenageamo-la hoje com um dos seus mais emblemáticos poemas: Porque...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

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