sábado, 28 de fevereiro de 2015

Escritor do mês: Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade, poeta, contista e cronista brasileiro ligado à corrente modernista, nasceu em Itabira, pequena cidade do estado de Minas Gerais, em 1902 e faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Muitos o consideram a principal influência poética da poesia brasileira do século XX.
Licenciado em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais, cedo fundou, em conjunto com outros companheiros, a publicação A Revista, destinada a divulgar o Modernismo no Brasil. O seu primeiro livro, de entre trinta e três livros originais de poemas, quatro destinados à infância e dezanove obras em prosa, foi publicado em 1930, com o título Alguma Poesia.
Com a sua esposa, Dolores Dutra de Morais, teve dois filhos: Carlos Flávio e Maria Julieta. O primeiro viveu apenas meia hora, tendo-lhe sido dedicado o poema O que viveu meia hora, presente em Poesia Completa.
Embora tenha sido sempre funcionário público, nunca deixou de escrever e foi retratado no cinema e na televisão no filme Poeta de Sete Faces, de 2002, assim como na minissérie JK, de 2006, teve a sua figura impressa nas notas de cinquenta cruzados novos, que circularam no Brasil entre 1988 e 1990 e encontra-se representado em diversas esculturas, nomeadamente em Porto Alegre, na praia de Copacabana do Rio de Janeiro e em Itabira, a sua cidade natal, num memorial.
Em 1987, alguns meses antes do seu falecimento, a escola carioca de samba A Mangueira homenageou-o com o enredo O Reino das Palavras, com que se sagrou campeã do carnaval do Rio nesse ano.
Carlos Drummond faleceu a 17 de agosto, precisamente doze dias após a morte da sua filha. 
Da extensa obra do autor, escolhemos Poema de sete faces:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

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