Memórias
Nostalgia de infância
Quando olhamos para a nossa infância,
vemo-la sempre como um período de inocência, um tempo mais simples. À medida
que envelhecemos são-nos impostas cada vez mais e mais responsabilidades.
Começamos a preocupar-nos mais com limites, trabalhos, dinheiro, e, por fim,
esquecemos as coisas mais simples que antes nos davam pura felicidade. Eu sou
uma pessoa que se tenta agarrar a esses momentos breves, pequenos, passageiros,
quase esquecidos e, no entanto, alegres e reconfortantes.
Claro que voltar a recriar o que
antes existia na inconsciência, uma vez conscientes, é impossível, daí a tal
melancolia associada à nostalgia. Mas relembrar momentos felizes dá-nos
saudades, e faz-nos apreciar o que antes tínhamos. Eu nunca irei esquecer a
minha irmã e o que ela fazia por mim. Um dos momentos do passado que mais prezo
até aos dias de hoje foi quando eu tinha pesadelos e a minha irmã me acalmava.
Muitas vezes, eu acordava ansiosa na noite. Tinha medo de voltar a adormecer e
retornar ao pequeno inferno que a minha mente passava como sonho. A minha irmã
levantava-se da cama ao lado da minha e segurava a minha mão com carinho. Eu
pedia, como quem pedia socorro, para ela me dizer “aquilo”, ainda com os olhos
marejados de lágrimas. Ela, apesar da diferença de idades, obedecia à sua irmã
chata e impaciente. Pondo uma mão na minha cabeça e fazendo gestos como se estivesse
a levar água à sua testa dizia: “pensamentos maus”. Depois fazia o inverso,
“pensamentos bons”, levando a mão dela da sua cabeça à minha. Repetia este
pequeno ritual, como uma encantação, uma meia dúzia de vezes. Não importava o quão
intenso tivesse sido o pesadelo, ou quão agitada eu acordava. Depois de fazer
“aquilo”, eu dormia sempre descansada. Não me remexia, não chorava, não
acordava. Passava a noite a sonhar, leve e feliz.
Agora, a minha irmã já não vive
comigo, mas não quer dizer que eu não repita para mim esta pequena canção
quando preciso. Nunca mais serei criança e voltarei a ter a minha inocência
passada, mas posso relembrar estes momentos e sentir-me nostálgica.
Mana! Mana!
Não posso dormir!
Eu sinto-me insana!
Eu preciso fugir!
Mana, minha mana,
Não tens nada a temer.
Fecha a pestana,
Vais adormecer.
Mana! Mana!
Fá-lo, por favor!
O medo ainda emana!
Eu não quero ter dor.
Mana, minha mana,
Minha mimalhinha,
Deita-te plana,
A canção minha:
Pensamentos bons.
Pensamentos maus.
Bons para ti,
Maus para mim.
Ouve belos sons,
Param os calhaus,
Sempre aqui
Estarei assim...
Mana! Mana!
Não quero dormir!
Volto a ser insana!
Necessito fugir!
Mana, mana...
Porque aqui não estás?
Não me sinto plana,
A mente não tem paz.
Ana Sofia Freitas, nº 24, 12ºA
Na minha
infância eu era feliz,
Com
brincadeiras simples e infantis,
Pois na
minha pura e inocente imaginação,
Nenhum
objeto era usado em vão.
As árvores
não eram só para enfeitar,
Muitas
vezes eram aviões a pairar no ar,
As bolotas
não eram meros frutos
Eram as
armas de uma batalha de apenas dez minutos.
Ai… Saudade
do que vivi
Quando não
sabia o que era viver.
Saudade do
que perdi,
Quando não
sabia o que estava a perder.
Na minha
infância sentia que não havia limites,
Era capaz de
tudo, mas na realidade capaz de nada.
Essa é a
razão pela qual se vê esperança
Nos olhos
de uma criança.
Com a
experiência da vida,
Boa ou má,
Perdi a
minha inocência,
Mas mantive
a minha essência.
Diogo Godinho, nº 9, 12ºA
Descalça
Nostalgia da infância
Passo todos os dias de carro pela
minha escola primária, mas nunca tinha atentado naquilo em que se havia
tornado. Recentemente, ao passar a pé pela rua onde fica a escola, parei e não
resisti. Fiquei a olhar para ela durante algum tempo, espreitei para dentro
pelo portão, não o da entrada, mas um com umas escadas onde nos costumávamos
sentar nos intervalos a fazer jogos ou a rir de piadas inocentes. Já não é uma
escola, apenas um espaço abandonado. O portão já não tem cor, costumava ser
verde, um verde tão vivo como as risadas que dávamos junto dele. As portas das
salas estão despidas de tinta. Um banquinho onde costumávamos lanchar, em tão
mau estado que ninguém se atreveria a lá se sentar. As janelas fechadas já não
têm os desenhos rupestremente pintados pelas crianças que lá aprendiam, colados
aos vidros com a fita-cola que sempre fazia parte do nosso material escolar.
Era uma escola bastante pequena,
bastante familiar. Apenas três turmas, duas de 1º ciclo e uma de pré-escolar.
Ao pensar, dá uma triste saudade de brincar no recreio, dos concertos que as
meninas faziam para a escola inteira, das horas do almoço que passávamos dentro
da sala a ver um filme enquanto que lá fora tudo parecia frio e distante, dos
espetáculos que fazíamos para os pais, as alegres aulas de música… Mas o que
não sai da minha cabeça são as saudades das pessoas que me acompanharam
enquanto lá estive. Perdeu-se o contacto. Aqueles que nos viram crescer e que
já não sabemos como estão.
E tudo aquilo me parecia tão
maior na altura do que parece agora. Tudo tão diferente, tão distante, tão
longe desta nova vida. Não que seja nova, mas tão desigual que nem parece a
mesma. No entanto é assim, nós crescemos e tudo muda. Mas a árvore… essa
continua lá.
Flávia Ferra, nº 12,
12ºA
“Olha a Carochinha...”, dizia a Educadora
de Infância a uma menina que se encontrava, todos os dias, à janela. Menina
essa que era demasiado inofensiva e apenas desejava que os seus pais passassem
pela escola para lhe dizerem um simples “Olá!”.
A escola nunca havia sido o seu lugar
favorito e as janelas daquela sala eram o porto seguro da Carochinha. Lá, tudo
era mais belo e tudo fazia mais sentido. Viajava no seu mundo de fantasias,
deixando-se levar pela sua imaginação, e tentando sempre encontrar respostas
para todas as suas questões.
Era na “janela mágica” que teria a
oportunidade de ver chegar os seus pais e ver resolvidos todos os seus
problemas. Depois de os ver, tudo ficava bem e fazia sentido, tudo parecia
melhor e rapidamente se esquecia do lugar onde estava. Os pais da Carochinha
não gostavam de a ver triste na hora de partir para os seus trabalhos, mas
sabiam que a Carochinha se tornaria forte e muito crescida. Sabiam, também, que
na escola ia aprender e escolher a sua profissão preferida.
A Carochinha cresceu e, hoje, já perdeu
esses medos.
Enfim, como era bom ser criança...
Bruna Lopes, 12ºA
Proud of my ex-students!
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