SOU UM LIVRO...
Fora há bastante
tempo. Tanto tempo, que já tinha perdido a noção. Um ano? Dois? Cinco? Não sei.
Só sei que naquele dia, vi a luz do sol pela última vez. A verdade, é que eu
sou um livro. Um bom e velho livro. Já são distantes as memórias em que me liam
vezes e vezes sem conta, e falavam sobre o meu conteúdo. Mas esses tempos
tinham-se ido. Foi naquele dia, naquele terrível dia, em que me colocaram numa
caixa, apenas para ser esquecido. Era uma bela tarde, os raios de sol entravam
pelo meio das cortinas. O meu dono já não me pegava há algum tempo, portanto,
quando ele me agarrou com as suas mãos que me eram tão familiares, senti a
felicidade de ser lido outra vez. Mas isso não aconteceu. Em vez disso,
colocaram-me numa caixa, e era lá que eu estava desde então.
Mas não estava sozinho. Ao meu lado, estavam
os outros volumes da minha coleção. Sim, sou um livro, mas não sou daquelas
enciclopédias ou dicionários grossos e pesados. Sou apenas um livro para
jovens, que conta algumas das aventuras de um grupo de exploradores. E quando
olhava para os meus caros colegas, via neles a mesma expressão de tristeza, de
saudade dos tempos dourados. Agora, o pó acumulava-se, as minhas páginas
amareleciam, as minhas letras desvaneciam-se, enfim, ia ficando desgastado pelo
tempo. É engraçado. É engraçado, mas também triste, como somos apenas objetos,
para o breve entretenimento dos humanos. Fazem-nos, compram-nos, leem-nos e
descartam-nos. É um processo de tristeza e dor sem fim.
Mas espera, o que seria aquilo? Seria possível? Uma nova luz? Os raios de luz penetravam novamente na caixa e iluminavam nossos rostos novamente. Uma nova luz, uma nova esperança nos iluminava a cara, e com lágrimas de felicidade, esperava ver o meu velho dono. Mas outra vez, isso não aconteceu. Contudo, não foi uma surpresa triste, nem uma boa, foi apenas uma surpresa. Já não era o meu velho dono que me carregava, mas sim uma jovem de cabelos loiros e pele de porcelana. Parecia uma boneca. Conseguia ver nos seus olhos, ela era uma autêntica apaixonada pela leitura. Quando ela me abriu novamente, suspirei de alívio. Era a primeira vez em anos que alguém me tocava, me abria, me lia. Era bom falar novamente com alguém. E assim começou uma nova luz, uma nova esperança, uma nova vida.
Gustavo Fidalgo, 10ºA
Eu sou um livro,
fabricado em Portugal há muitos anos atrás, com milhares de páginas fininhas,
uma capa bem ilustrada, mas uma lombada que não se destaca muito nas
prateleiras da biblioteca. O meu papel, que em tempos foi branco, está cheio de
letrinhas pequeninas e histórias que o meu autor escreveu para partilhar com o
mundo!
Eu sou um livro, de muitos na minha
biblioteca, colocado numa estante que a maior parte das pessoas evita, onde
apenas as obras mais complexas estão expostas. As poucas que leem a minha
contracapa não costumam gostar de mim. Como é possível resumir um livro tão
grande num texto de dois minutos!? São raríssimas as pessoas que ousam folhear
as minhas páginas, mas quando me abro passo horas a contar as minhas histórias
de aventura! No entanto nunca me levaram para fora deste mundo, acabo sempre o
meu dia no topo da minha estante. Os meus vizinhos mais pequenos passam a vida
lá fora, provavelmente porque à primeira vista parecem mais interessantes do
que eu. Talvez esse seja o preço a pagar por ser um livro tão detalhado, cheio
de segredos e cheio de aventuras escondidas no meio das páginas. É preciso
folhear-me bem para encontrar a minha verdadeira essência.
Eu sou um livro, e espero pelo dia
em que alguém me leve consigo à descoberta de um mundo novo. As páginas
transformam-se em cenários nos quais viajar, conhecer novas terras, passear por
caminhos desconhecidos e viver aventuras inesquecíveis! O meu autor escondeu
isso tudo em letras pequeninas, para que estas apenas fossem lidas pela pessoa
ideal. Para uns posso ser um mar de maravilhosas histórias, para outros sou
apenas um livro...
Diogo Pinheiro, 10ºA
Posso-me
transformar em tudo que imaginares dependendo da tua interpretação, pois afinal
as palavras têm o sentido que nós lhes damos. Só tens que me dar uma
oportunidade e mostrarei que nós, livros, temos muito para oferecer, desde
sabedoria a criatividade e imaginação, desde tristeza a felicidade, nem vais
acreditar no que tens perdido. Nós temos um universo todo para te oferecer.
Consigo levar-te
às praias ensolaradas de Gold Coast onde os tubarões e crocodilos tal como as
raias e alforrecas ganham vida e mostrar-te os arranha-céus e os canais que lá
existem. Posso também levar-te ao passado, onde és um rei ou um pirata ou até
mesmo um cientista cheio de questões mas sem respostas por ser limitado pela
tecnologia do seu tempo. Tenho o poder de te levar ao Espaço ou até Hogwarts se
quiseres. Posso ser uma banda desenhada ou uma obra de poesia. Posso ser um
best-seller ou então um livro desconhecido mas com muito para oferecer. Cabe-te
a ti escolheres.
Sou misterioso
mas também muito transparente. Posso-te fazer chorar como te posso fazer rir.
Gosto de deixar as pessoas pensativas e intrigadas, de as deixar cultas e de as
ajudar.
Sempre que
passares por um mau bocado lembra-te que estou sempre disponível para te fazer
feliz.
Guilherme Ribeiro, 10ºA
Eu
sou um livro. Mas não sou um livro qualquer; sou um livro muitíssimo luxuoso!
Tenho uma capa dura de pele vermelha e ilustrações douradas. Sou lindo de ver e
melhor ainda de se ler!
Ninguém
me abre há séculos; apenas me pegam para limpar o pó…
Nesta
livraria faço muitos amigos novos, acabadinhos de serem impressos, e todos os
dias perco alguns.
Cada
dia é uma nova esperança: desde o primeiro minuto que a livraria abre até ao
último minuto que fecha fico à espera que alguém me dê um lar.
Posso
ter um ar muito requintado mas apenas quero alguém que me folheie até ao final
com todo o carinho; que admire as minhas ilustrações; que me deixe levá-lo
pelas mais belas viagens a lugares nunca antes visitados.
São
lugares mágicos com criaturas místicas!
Sou
um livro inspirado em mitos, lendas e narrativas. Sou um livro escrito em prosa
e poesia. Vários autores enchem as minhas páginas.
Sou
um livro que tanto posso aconchegar os serões frios de inverno, como animar as
tardes quentes de verão.
Um
dia serei presente de aniversário ou presente de Natal? Terei alguma
dedicatória para alguém muito especial? Guardarei algum segredo escondido no
meio das minhas páginas? ou talvez até a fotografia de uma amada ou amado...?
Serei o prémio de um grande vencedor? Passarei de geração em geração? Contando
e recontando sem nunca me cansar as minhas histórias, lendas e narrativas?
Serei memórias de infância?
E
se algum dia me guardarem num baú, fechado num qualquer sótão e se esquecerem
de mim...
Sou
um livro, um amigo, companheiro e confidente.
Sou
um livro, lugar eterno onde se juntam ensinamentos e diversão.
Não
sou digital nem virtual; sou um livro tal e qual. Tenho o cheiro do couro na
pele vermelha da minha capa e quando sacodem as minhas folhas, qual aroma das
páginas ainda por estrear.
Mãos
frias, mãos quentes, mãos presentes para tocar, abrir e folhear.
Sou
um livro e é tudo o que mais posso desejar.
Maria João
Moreira, 10ºB
Sim,
eu era um livro, um monte de papel e cartão, inútil.
Ficava
arrumado no canto de uma estante de uma biblioteca municipal, junto de muitos
outros, ninguém me via, ninguém me queria. Adoro crimes e mistérios, mas as
minhas páginas estavam amareladas, a minha capa cheia de poeira… Mas eu ainda
tinha esperança de um dia ser tocado por alguém.
Passavam
os dias e nada acontecia, começava a perder a esperança, ninguém aparecia,
apenas aranhas e outros insetos. Afinal para que é que eu fora feito? Será que
alguém sabia da minha existência? Tudo parecia muito vazio.
Até
ao dia em que o meu herói apareceu, ele era apenas um adolescente, mas bastou o
seu toque para que toda a poeira e sujidade desaparecesse. Finalmente eu tinha
alguém para passar o tempo, tinha alguém para conversar comigo, mesmo eu sendo
um livro. Eu contava-lhe histórias, ele ria-se, chorava, ficava surpreendido,
tudo por causa do que estava escrito nas minhas páginas. Depois de tanto tempo,
finalmente eu tinha uma casa, tinha a minha própria estante.
Sim, sou um livro, sou uma história, sou um conjunto de emoções, sou conhecimento. Tenho orgulho de ser quem sou.
Daniel
Gonçalves, 10ºB
Serei um
livro?
Apesar das chamas das velas que
bruxuleiam inquietas, a sala é escura. A cera quente pinga sujando o
tampo da mesa de madeira escura em que me encontro. Este quarto mais
parece uma cela. As janelas estão sempre fechadas e as portadas trancadas
e nem o zumbido de um inseto temeroso se faz ouvir.
Sou um livro. Não. Não sou nada um livro.
Por enquanto, sou apenas um monte de páginas que nem cosidas estão
umas às outras. Nem tão pouco uma capa miserável eu tenho. Sou
um livro em crescimento, incompleto, inacabado. Sou um livro no seu estado
mais básico. Um monte de palavras escritas por uma mão muito
habilidosa numas simples folhas. Habilidosa, mas temível. Quando
a inspiração lhe é soprada por uma bendita musa, escreve
furiosamente. A pena a arranhar o papel, deixando bem marcados todos os
seus pensamentos mais profundos. Algo que dói, mas de uma maneira boa, uma
dor à qual nós, livros, nos sujeitamos orgulhosamente. Mas, por
vezes, não lhe agrada o “Era uma vez” ou acha enfadonho o príncipe
ou torce o nariz ao “e viveram felizes para sempre” e então rasga-o.
Rasga tudo em mil bocadinhos. Uma dor que não tem comparação
com o gadanhar ligeiro da ponta da pena.
Por isto, temo por mim. Nunca podemos
ter a certeza de que as nossas palavras se libertem das nossas páginas,
que se entranhem nalgum espírito bem-aventurado. Esta secretária é o
purgatório. E ele, Deus.
Do outro lado do abismo que é esta
secretária, encontra-se uma estante de madeira trabalhada. Está escondida
na sombra, mas sinto a presunção dos seus sucessos. Os
vários motivos do seu orgulho. O maior desejo de todos
os aspirantes a livros é um lugar naquela estante. Um pedido tão
simples: que nos cosam as páginas, nos encadernem com uma capa de
couro e nos coloquem delicadamente ao lado dos orgulhosos volumes.
Enfim, a verdade é que poucos dos
manuscritos que nascem daquela pena vivem o suficiente para que lhes
gravem o título a dourado. Serão as minhas frases belas o suficiente
para cativar aqueles que me folhearem? Serei eu digno de um lugar de
honra numa estante de uma biblioteca conceituada? Serei eu capaz de
encontrar o meu final feliz? Serei eu, algum dia, um livro?
Leonor Fernandes, 10ºB
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