quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Dos Nossos Alunos

 SOU UM LIVRO...




Fora há bastante tempo. Tanto tempo, que já tinha perdido a noção. Um ano? Dois? Cinco? Não sei. Só sei que naquele dia, vi a luz do sol pela última vez. A verdade, é que eu sou um livro. Um bom e velho livro. Já são distantes as memórias em que me liam vezes e vezes sem conta, e falavam sobre o meu conteúdo. Mas esses tempos tinham-se ido. Foi naquele dia, naquele terrível dia, em que me colocaram numa caixa, apenas para ser esquecido. Era uma bela tarde, os raios de sol entravam pelo meio das cortinas. O meu dono já não me pegava há algum tempo, portanto, quando ele me agarrou com as suas mãos que me eram tão familiares, senti a felicidade de ser lido outra vez. Mas isso não aconteceu. Em vez disso, colocaram-me numa caixa, e era lá que eu estava desde então.

 Mas não estava sozinho. Ao meu lado, estavam os outros volumes da minha coleção. Sim, sou um livro, mas não sou daquelas enciclopédias ou dicionários grossos e pesados. Sou apenas um livro para jovens, que conta algumas das aventuras de um grupo de exploradores. E quando olhava para os meus caros colegas, via neles a mesma expressão de tristeza, de saudade dos tempos dourados. Agora, o pó acumulava-se, as minhas páginas amareleciam, as minhas letras desvaneciam-se, enfim, ia ficando desgastado pelo tempo. É engraçado. É engraçado, mas também triste, como somos apenas objetos, para o breve entretenimento dos humanos. Fazem-nos, compram-nos, leem-nos e descartam-nos. É um processo de tristeza e dor sem fim.

 Mas espera, o que seria aquilo? Seria possível? Uma nova luz? Os raios de luz penetravam novamente na caixa e iluminavam nossos rostos novamente. Uma nova luz, uma nova esperança nos iluminava a cara, e com lágrimas de felicidade, esperava ver o meu velho dono. Mas outra vez, isso não aconteceu. Contudo, não foi uma surpresa triste, nem uma boa, foi apenas uma surpresa. Já não era o meu velho dono que me carregava, mas sim uma jovem de cabelos loiros e pele de porcelana. Parecia uma boneca. Conseguia ver nos seus olhos, ela era uma autêntica apaixonada pela leitura. Quando ela me abriu novamente, suspirei de alívio. Era a primeira vez em anos que alguém me tocava, me abria, me lia. Era bom falar novamente com alguém. E assim começou uma nova luz, uma nova esperança, uma nova vida.

Gustavo Fidalgo, 10ºA



 

Eu sou um livro, fabricado em Portugal há muitos anos atrás, com milhares de páginas fininhas, uma capa bem ilustrada, mas uma lombada que não se destaca muito nas prateleiras da biblioteca. O meu papel, que em tempos foi branco, está cheio de letrinhas pequeninas e histórias que o meu autor escreveu para partilhar com o mundo!

            Eu sou um livro, de muitos na minha biblioteca, colocado numa estante que a maior parte das pessoas evita, onde apenas as obras mais complexas estão expostas. As poucas que leem a minha contracapa não costumam gostar de mim. Como é possível resumir um livro tão grande num texto de dois minutos!? São raríssimas as pessoas que ousam folhear as minhas páginas, mas quando me abro passo horas a contar as minhas histórias de aventura! No entanto nunca me levaram para fora deste mundo, acabo sempre o meu dia no topo da minha estante. Os meus vizinhos mais pequenos passam a vida lá fora, provavelmente porque à primeira vista parecem mais interessantes do que eu. Talvez esse seja o preço a pagar por ser um livro tão detalhado, cheio de segredos e cheio de aventuras escondidas no meio das páginas. É preciso folhear-me bem para encontrar a minha verdadeira essência.

            Eu sou um livro, e espero pelo dia em que alguém me leve consigo à descoberta de um mundo novo. As páginas transformam-se em cenários nos quais viajar, conhecer novas terras, passear por caminhos desconhecidos e viver aventuras inesquecíveis! O meu autor escondeu isso tudo em letras pequeninas, para que estas apenas fossem lidas pela pessoa ideal. Para uns posso ser um mar de maravilhosas histórias, para outros sou apenas um livro...

Diogo Pinheiro, 10ºA



 

Posso-me transformar em tudo que imaginares dependendo da tua interpretação, pois afinal as palavras têm o sentido que nós lhes damos. Só tens que me dar uma oportunidade e mostrarei que nós, livros, temos muito para oferecer, desde sabedoria a criatividade e imaginação, desde tristeza a felicidade, nem vais acreditar no que tens perdido. Nós temos um universo todo para te oferecer.

Consigo levar-te às praias ensolaradas de Gold Coast onde os tubarões e crocodilos tal como as raias e alforrecas ganham vida e mostrar-te os arranha-céus e os canais que lá existem. Posso também levar-te ao passado, onde és um rei ou um pirata ou até mesmo um cientista cheio de questões mas sem respostas por ser limitado pela tecnologia do seu tempo. Tenho o poder de te levar ao Espaço ou até Hogwarts se quiseres. Posso ser uma banda desenhada ou uma obra de poesia. Posso ser um best-seller ou então um livro desconhecido mas com muito para oferecer. Cabe-te a ti escolheres.

Sou misterioso mas também muito transparente. Posso-te fazer chorar como te posso fazer rir. Gosto de deixar as pessoas pensativas e intrigadas, de as deixar cultas e de as ajudar.

Sempre que passares por um mau bocado lembra-te que estou sempre disponível para te fazer feliz.

 Guilherme Ribeiro, 10ºA

 

 

 

 

Eu sou um livro. Mas não sou um livro qualquer; sou um livro muitíssimo luxuoso! Tenho uma capa dura de pele vermelha e ilustrações douradas. Sou lindo de ver e melhor ainda de se ler! 

Ninguém me abre há séculos; apenas me pegam para limpar o pó…

Nesta livraria faço muitos amigos novos, acabadinhos de serem impressos, e todos os dias perco alguns. 

Cada dia é uma nova esperança: desde o primeiro minuto que a livraria abre até ao último minuto que fecha fico à espera que alguém me dê um lar. 

Posso ter um ar muito requintado mas apenas quero alguém que me folheie até ao final com todo o carinho; que admire as minhas ilustrações; que me deixe levá-lo pelas mais belas viagens a lugares nunca antes visitados.

São lugares mágicos com criaturas místicas!

Sou um livro inspirado em mitos, lendas e narrativas. Sou um livro escrito em prosa e poesia. Vários autores enchem as minhas páginas.

Sou um livro que tanto posso aconchegar os serões frios de inverno, como animar as tardes quentes de verão.

Um dia serei presente de aniversário ou presente de Natal? Terei alguma dedicatória para alguém muito especial? Guardarei algum segredo escondido no meio das minhas páginas? ou talvez até a fotografia de uma amada ou amado...? Serei o prémio de um grande vencedor? Passarei de geração em geração? Contando e recontando sem nunca me cansar as minhas histórias, lendas e narrativas? Serei memórias de infância? 

 E se algum dia me guardarem num baú, fechado num qualquer sótão e se esquecerem de mim... 

Sou um livro, um amigo, companheiro e confidente.

Sou um livro, lugar eterno onde se juntam ensinamentos e diversão.

Não sou digital nem virtual; sou um livro tal e qual. Tenho o cheiro do couro na pele vermelha da minha capa e quando sacodem as minhas folhas, qual aroma das páginas ainda por estrear.

Mãos frias, mãos quentes, mãos presentes para tocar, abrir e folhear.

Sou um livro e é tudo o que mais posso desejar.

 

Maria João Moreira, 10ºB

 



Sim, eu era um livro, um monte de papel e cartão, inútil.

Ficava arrumado no canto de uma estante de uma biblioteca municipal, junto de muitos outros, ninguém me via, ninguém me queria. Adoro crimes e mistérios, mas as minhas páginas estavam amareladas, a minha capa cheia de poeira… Mas eu ainda tinha esperança de um dia ser tocado por alguém.

Passavam os dias e nada acontecia, começava a perder a esperança, ninguém aparecia, apenas aranhas e outros insetos. Afinal para que é que eu fora feito? Será que alguém sabia da minha existência? Tudo parecia muito vazio.

Até ao dia em que o meu herói apareceu, ele era apenas um adolescente, mas bastou o seu toque para que toda a poeira e sujidade desaparecesse. Finalmente eu tinha alguém para passar o tempo, tinha alguém para conversar comigo, mesmo eu sendo um livro. Eu contava-lhe histórias, ele ria-se, chorava, ficava surpreendido, tudo por causa do que estava escrito nas minhas páginas. Depois de tanto tempo, finalmente eu tinha uma casa, tinha a minha própria estante.

Sim, sou um livro, sou uma história, sou um conjunto de emoções, sou conhecimento. Tenho orgulho de ser quem sou.

Daniel Gonçalves, 10ºB

 

 

 

 

Serei um livro?  

Apesar das chamas das velas que bruxuleiam inquietas, a sala é escura. A cera quente pinga sujando o tampo da mesa de madeira escura em que me encontro. Este quarto mais parece uma cela. As janelas estão sempre fechadas e as portadas trancadas e nem o zumbido de um inseto temeroso se faz ouvir.  

Sou um livro. Não. Não sou nada um livro. Por enquanto, sou apenas um monte de páginas que nem cosidas estão umas às outras. Nem tão pouco uma capa miserável eu tenho. Sou um livro em crescimento, incompleto, inacabado. Sou um livro no seu estado mais básico. Um monte de palavras escritas por uma mão muito habilidosa numas simples folhas. Habilidosa, mas temível. Quando a inspiração lhe é soprada por uma bendita musa, escreve furiosamente. A pena a arranhar o papel, deixando bem marcados todos os seus pensamentos mais profundos. Algo que dói, mas de uma maneira boa, uma dor à qual nós, livros, nos sujeitamos orgulhosamente. Mas, por vezes, não lhe agrada o “Era uma vez” ou acha enfadonho o príncipe ou torce o nariz ao “e viveram felizes para sempre” e então rasga-o. Rasga tudo em mil bocadinhos. Uma dor que não tem comparação com o gadanhar ligeiro da ponta da pena. 

Por isto, temo por mim. Nunca podemos ter a certeza de que as nossas palavras se libertem das nossas páginas, que se entranhem nalgum espírito bem-aventurado. Esta secretária é o purgatório. E ele, Deus.    

Do outro lado do abismo que é esta secretária, encontra-se uma estante de madeira trabalhada. Está escondida na sombra, mas sinto a presunção dos seus sucessos. Os vários motivos do seu orgulho. O maior desejo de todos os aspirantes a livros é um lugar naquela estante. Um pedido tão simples: que nos cosam as páginas, nos encadernem com uma capa de couro e nos coloquem delicadamente ao lado dos orgulhosos volumes. 

 Enfim, a verdade é que poucos dos manuscritos que nascem daquela pena vivem o suficiente para que lhes gravem o título a dourado. Serão as minhas frases belas o suficiente para cativar aqueles que me folhearem? Serei eu digno de um lugar de honra numa estante de uma biblioteca conceituada? Serei eu capaz de encontrar o meu final feliz? Serei eu, algum dia, um livro? 

 


Leonor Fernandes, 10ºB



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