quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Um poeta, um poema - 1


Charles Baudelaire (1821 - 1867) foi uma das mais controversas e importantes figuras da poesia de finais do século XIX. Não fosse ele, não teria havido Rimbaud, Verlaine seria mais desconhecido, Edgar Allan Poe não teria saído da miséria e da sombra e muitos outros, futuros no que concerne ao seu tempo, teriam sido diversos. É um facto que a poesia é a forma literária de mais difícil tradução. É, no entanto, perfeitamente factível traduzi-la bem, neste caso para Português, pela mão de Delfim Guimarães. Trazemos-vos L'albatros ou, no caso presente, O Albatroz...

Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num voo triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vê preso, estendido
Nas tábuas do convés, - pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caídas para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!...
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
Não o deixam andar as asas colossais!


Sem comentários:

Enviar um comentário