Manuel António Pina, jornalista, cronista, escritor, teria comemorado ontem o seu septuagésimo-primeiro aniversário, não o tivesse a morte levado prematuramente. Porque nunca é esquecido quem merece ser recordado, apresentamos de seguida uma apropriada elegia da autoria do Pina, como era conhecido entre os amigos, talvez um dos seus mais pujantes poemas...
Uma breve, amável mágoa à
flor dos olhos, um distante
desapontamento,
morrias como se pedisses desculpa
por nos fazeres perder tempo.
Tinhas pressa mas não o mostravas,
receavas que não estivéssemos preparados,
e, suspenso sobre nós, esperavas
que disséssemos tudo, que fizéssemos o
apropriado.
Morrer não é motivo de orgulho,
mas estavas cansado demais para te
justificares.
Ainda por cima no mês de Julho,
com as férias marcadas, ausentes os
familiares.
Tínhamos levado as crianças de casa,
feito os telefonemas, escolhido os
dizeres.
O quarto fora arrumado, a cama mudada
com roupa lavada. Só faltava morreres.
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