Poema à Primavera
Depois
do Inverno,
morte figurada,
A primavera,
uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
Agora
Abre-te, Primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.
ODE À PRIMAVERA
Anda prenha de mosto!
Ou é da luz do dia,
Ou é da cor do rosto,
Ou então quer abrir-se, neste gosto
De pão com todo o sal que lhe cabia!
Folhas de acanto nos sentidos!
E carícias na mão
A espreitar dos tendões adormecidos!
Murmura-se uma prece, e a boca grita!
A rabiça do arado é como um leme
Sobre a terra que ondula e ressuscita!
Quem avoluma a sombra, ou quem a teme?
Cada presença é um hino que palpita!
E se na estrada alguém discorda e geme,
Ninguém que vai no sonho o acredita!
Tu, com frutos na rama do futuro,
Com sementes nos pés
E flores inúteis sobre cada muro,
Contentes só da graça que tu és!
Miguel Torga
Biografia de Miguel Torga
Miguel Torga (1907-1995) foi um escritor
português, um dos mais importantes poetas do século XX. Destacou-se também como
contista, ensaísta, romancista e dramaturgo, deixando mais de 50 obras
publicadas.
Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo
Correia da Rocha, nasceu em São Martinho de Anta, Vila Real, Portugal, no dia
12 de agosto de 1907. De família humilde, com 10 anos foi para a cidade
do Porto trabalhar na casa de familiares. Foi porteiro, moço de recados,
regava o jardim, limpava a escadaria etc.
Em 1918 foi mandado para o seminário de
Lamego, onde estudou Português, Geografia e História, Latim e os textos
sagrados. Depois de um ano decidiu que não queria ser padre.
Em 1920, com 13 anos, Miguel Torga
viajou para o Brasil para trabalhar na fazenda de café, de um tio, em Minas
Gerais. Foi matriculado no Ginásio, em Leopoldina.
Em 1925, com 18 anos, regressou a
Portugal acompanhado do tio, que percebendo a inteligência do sobrinho se
prontificou a custear seus estudos em Coimbra.
Durante três anos cursou o Liceu e em
1928 matricula-se na Faculdade de Medicina. Em 1933, depois de formado, começou
a exercer a profissão em sua terra natal.
Carreira literária
Ainda estudante de medicina, Miguel
Torga Iniciou sua vida literária e publicou seus primeiros livros de poemas:
- Ansiedade (1928)
- Rampa (1930)
- Tributo (1931)
- Abismo (1932)
Em 1934, publicou A Terceira Voz,
quando passou a usar o pseudônimo que o imortalizou. As criticas ao regime
franquista espanhol contidas no livro O Quarto Dias, levaram-no à prisão em
1940
Miguel Torga evitava agitação e
publicidade, mantinha-se longe de movimentos políticos e literários, não dava
autógrafos ou dedicatórias e não oferecia livros a ninguém, para que o leitor
fosse livre para escolher.
Sua obra reflete as apreensões,
esperanças e angústias de seu tempo, traduz sua rebeldia contra as injustiças e
sua revolta diante dos abusos do poder.
Miguel Torga escreveu uma vasta obra,
em poesia, prosa, romance e teatro. Teve seus livros
traduzidos para diversas línguas. Foi por várias vezes candidato ao Prêmio
Nobel de Literatura.
Miguel Torga recebeu vários prêmios,
entre eles:
- Prêmio do Diário de Notícias (1969)
- Prêmio Internacional de Poesia de Knokke-Heist (1976)
- Prêmio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. (1981)
- Prêmio Camões (1989)
- Prêmio Personalidade do Ano (1991)
- Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
(1992)
- Prêmio da Crítica, consagrando a sua obra (1993)
Miguel Torga faleceu em Coimbra,
Portugal no dia 17 de janeiro de 1995.
Obras
de Miguel Torga
- Ansiedade (1928)
- Rampa (1930)
- Tributo (1931)
- Pão Ázimo (1931)
- Abismo (1932)
- A Terceira Voz (1934)
- O Outro Livro de Jó (1936)
- Bichos (1940)
- O Quarto Dia (1940)
- Contos da Montanha (1941)
- Rua (1942)
- O Senhor Ventura (1943)
- Libertação (1944)
- Vindima (1945)
- Odes (1946)
- Sinfonia (1947)
- O Paraíso (1949)
- Cânticos do Homem (1950)
- Portugal (1950)
- Alguns Poemas Ibéricos (1952)
- Penas do Purgatório (1954)
- Traços de União (1955)
- Orfeu Rebelde (1958)
- Câmara Ardente (1962)
- Poemas Ibéricos (1965)
- Fogo Preso (1976)
- A Criação do Mundo (V volumes, 1937, 38, 39, 74 e 81)
- Diário (XVI volumes, 1941 a 1993)
Sem comentários:
Enviar um comentário