terça-feira, 22 de março de 2022

Po.e.mas Sol.tos

 




Poema à Primavera


Depois do Inverno, 
morte figurada, 
A primavera,
uma assunção de flores. 
A vida 
Renascida 
E celebrada 
Num festival de pétalas e cores. 


 Agora

 
Abre-te, Primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.


Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.

 

ODE À PRIMAVERA

A vida anda possessa de Poesia!
Anda prenha de mosto!
Ou é da luz do dia,
Ou é da cor do rosto,
Ou então quer abrir-se, neste gosto
De pão com todo o sal que lhe cabia!
 
Tem narcisos de amor no coração,
Folhas de acanto nos sentidos!
E carícias na mão
A espreitar dos tendões adormecidos!
 
Toca-se numa pedra, e ela treme!
Murmura-se uma prece, e a boca grita!
A rabiça do arado é como um leme
Sobre a terra que ondula e ressuscita!
Quem avoluma a sombra, ou quem a teme?
Cada presença é um hino que palpita!
E se na estrada alguém discorda e geme,
Ninguém que vai no sonho o acredita!
 
Serás tu, Primavera?
Tu, com frutos na rama do futuro,
Com sementes nos pés
E flores inúteis sobre cada muro,
Contentes só da graça que tu és!

 

Miguel Torga


Biografia de Miguel Torga

Miguel Torga (1907-1995) foi um escritor português, um dos mais importantes poetas do século XX. Destacou-se também como contista, ensaísta, romancista e dramaturgo, deixando mais de 50 obras publicadas.

Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em São Martinho de Anta, Vila Real, Portugal, no dia 12 de agosto de 1907. De família humilde, com 10 anos foi para a cidade do Porto trabalhar na casa de familiares. Foi porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava a escadaria etc.

Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde estudou Português, Geografia e História, Latim e os textos sagrados. Depois de um ano decidiu que não queria ser padre.

Em 1920, com 13 anos, Miguel Torga viajou para o Brasil para trabalhar na fazenda de café, de um tio, em Minas Gerais. Foi matriculado no Ginásio, em Leopoldina.

Em 1925, com 18 anos, regressou a Portugal acompanhado do tio, que percebendo a inteligência do sobrinho se prontificou a custear seus estudos em Coimbra.

Durante três anos cursou o Liceu e em 1928 matricula-se na Faculdade de Medicina. Em 1933, depois de formado, começou a exercer a profissão em sua terra natal.

Carreira literária

Ainda estudante de medicina, Miguel Torga Iniciou sua vida literária e publicou seus primeiros livros de poemas:

  • Ansiedade (1928)
  • Rampa (1930)
  • Tributo (1931)  
  • Abismo (1932)

Em 1934, publicou A Terceira Voz, quando passou a usar o pseudônimo que o imortalizou. As criticas ao regime franquista espanhol contidas no livro O Quarto Dias, levaram-no à prisão em 1940

 Miguel Torga evitava agitação e publicidade, mantinha-se longe de movimentos políticos e literários, não dava autógrafos ou dedicatórias e não oferecia livros a ninguém, para que o leitor fosse livre para escolher.

Sua obra reflete as apreensões, esperanças e angústias de seu tempo, traduz sua rebeldia contra as injustiças e sua revolta diante dos abusos do poder.

Miguel Torga escreveu uma vasta obra, em poesia, prosa, romance e teatro. Teve seus livros traduzidos para diversas línguas. Foi por várias vezes candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.

Miguel Torga recebeu vários prêmios, entre eles:

  • Prêmio do Diário de Notícias (1969)
  • Prêmio Internacional de Poesia de Knokke-Heist (1976)
  • Prêmio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. (1981)
  • Prêmio Camões (1989)
  • Prêmio Personalidade do Ano (1991)
  • Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992)
  • Prêmio da Crítica, consagrando a sua obra (1993)

Miguel Torga faleceu em Coimbra, Portugal no dia 17 de janeiro de 1995.

Obras de Miguel Torga

  • Ansiedade (1928)
  • Rampa (1930)
  • Tributo (1931)
  • Pão Ázimo (1931)
  • Abismo (1932)
  • A Terceira Voz (1934)
  • O Outro Livro de Jó (1936)
  • Bichos (1940)
  • O Quarto Dia (1940)
  • Contos da Montanha (1941)
  • Rua (1942)
  • O Senhor Ventura (1943)
  • Libertação (1944)
  • Vindima (1945)
  • Odes (1946)
  • Sinfonia (1947)
  • O Paraíso (1949)
  • Cânticos do Homem (1950)
  • Portugal (1950)
  • Alguns Poemas Ibéricos (1952)
  • Penas do Purgatório (1954)
  • Traços de União (1955)
  • Orfeu Rebelde (1958)
  • Câmara Ardente (1962)
  • Poemas Ibéricos (1965)
  • Fogo Preso (1976)
  • A Criação do Mundo (V volumes, 1937, 38, 39, 74 e 81)
  • Diário (XVI volumes, 1941 a 1993)

 

Sem comentários:

Enviar um comentário