sábado, 23 de dezembro de 2017

A PERSONALIDADE DO MÊS DE DEZEMBRO


Millôr Fernandes


Poeminha de Millôr Fernandes relativo à árvore de natal.

Dava bolas, não se lembram?
Dava velas multicores
Que iluminavam, na sala,
Uma breve noite sem dores.
(…)
Mas será que interessa
Em nome de uns inocentes
Crescer árvores inventadas
Pela imaginação das gentes
Sem utilidade prática
Frutificando presentes
(Que brotavam das raízes)
Só pra pessoas felizes?
(…)
Era uma coisa maldita
Pois a praga da aflição
Crescia mais do que ela
E sem darmos atenção
Foram-se acabando as mudas
Não houve renovação
E cercada de fome e medo
Morreu toda a plantação.
Pode ser, eu não sei não,
Pois há ainda outra versão;
Ante a violência urbana
A árvore ficou tristonha
E como não era humana
Morreu mesmo é de vergonha.
(…)

Breve biografia do autor do poeminha:

    A vida de Millôr Fernandes decorreu entre 16 de agosto de 1923 e 27 de março de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Ele será lembrado como o maior humorista do século XX e começo deste em língua portuguesa (e não só). No entanto, o mês de novembro teria muita importância na sua faceta de jornalista e opositor ao regime militar brasileiro nas décadas de  60 e 70. De facto, em 1964, e poucos semanas após o golpe militar, fundou a revista quinzenal Pif-Paf, da qual participariam alguns dos principais nomes do humor brasileiro, como Ziraldo, Jaguar e Stanislaw Ponte Preta. A revista durou apenas oito números e foi fechada pelos militares. “Eu fiquei devendo 21 mil cruzeiros; meu valor na praça, então, era mais ou menos 500 cruzeiros mensais”, relembrou Millôr. O Pif-Paf foi uma espécie de embrião de um dos jornais alternativos mais espetaculares já publicados no Brasil: O Pasquim. Criado por Ziraldo e Jaguar e outros expoentes da intelectualidade da esquerda nacional, o semanário, obviamente, arrumou “encrencas” com a ditadura. Numa delas, em novembro de 1970, todo o staff do jornal foi preso por dois meses.
Em jeito de súmula biográfica de Millôr Fernandes, pode-se afirmar que ele não quis ser apenas o sujeito mais engraçado de sua rua, cidade e país. Isso era para ele insuficiente, atirou-se vitoriosamente a outras tarefas de comunicação tais como jornalismo (como já foi referido através das referências aos periódicos “Pif-Paf” e “Pasquim) poesia, desenho, pintura, tradução, dramaturgia e outras variantes da prometida intelectualidade. No entanto, a sua mais-valia estava (e está) na arte de dissecar os mistérios da essência humana, descarnando, pela palavra, a nudez putrefacta do dogma e do obscurantismo. A sua arma foi o humor que derrubou (e derruba) o já assente, limou (e lima) o que é dado como certo, furou (e fura) o definitivo.
     No seu texto “Apresentação (quase) desnecessária”, Millôr Fernandes traçou (e troçou) de si próprio este singelo esboço: “Chamo-me Millôr Fernandes, o que, já não sendo uma novidade, ainda não é uma elegia. Sou um homem de estatura mediana, idade mediana, inteligência mediana, razoável saúde. Nasci no Méier, subúrbio baixa-classe-média do Rio de Janeiro, atravessei socialmente esta cidade, e hoje vivo pegado ao Country Club – mas não se assustem que não sou sócio. Sou magro e tonto, vago e preocupado. Gostaria de ter a beleza física de um Allan Delon, o génio de um Sean O´Casey e a invitável simpatia do Pato Donald, mas como o destino poderia me ter dado a fúria negativa de um Goldwater, contento-me com o que sou. Só uma coisa me causa mau humor: o mau humor dos outros”.
    Aqui ficam alguns pensamentos de Millôr Fernandes:
 . «O desgraçado do cara que me meteu nas maiores encrencas da vida fui eu mesmo.»;
 . «Se é gostoso faz logo, amanhã pode ser ilegal.»;
 . «O mal deste país é que cada vez sobra mais mês no fim do dinheiro.»;
 . «O lar é o castelo do homem». Isso no tempo em que havia castelos, lares e homens.”
 . «A maior parte das mulheres aprende a conduzir acidentalmente.»;
 . «Se Deus me der força e saúde, hei-de provar que ele não existe»;
 . «Todos os homens nascem iguais. E, às vezes, até piores.»;
. «Chama-se de contenção conseguirmos fazer a raiva empatar com a educação.»;
 . «Um recém-nascido é a prova de que a natureza não desistiu do ser humano.»
 . «Círculo é uma linha que resolve ir dar uma volta.».

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