quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um poeta, um poema - 2


Um dos mais interessantes representantes do modernismo lusófono, Manuel Bandeira nasceu no Recife em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro em 1968. Concluiu o curso de Humanidades em 1904 e, pouco depois, frequentou Arquitetura, curso do qual se viu forçado a desistir, visto ter sido acometido de tuberculose. 
Poeta, crítico literário e de artes, professor de literatura e tradutor, passou a ocupar um lugar na Academia Brasileira de Letras a partir de 1940 e legou-nos onze obras poéticas, dezanove em prosa (fundamentalmente teóricas) e ainda inúmeras coautorias. A sua poesia pauta-se por um estilo simples e direto, frequentemente marcado por alguma melancolia e mesmo angústia, a que não é estranho o facto de, sofrendo de tuberculose, se encontrar ciente de poder ter de se despedir do mundo a qualquer momento. Simples e direto, efetivamente, mas não cravado da dureza que caracterizou muitos dos seus conterrâneos e contemporâneos.
Torna-se difícil a seleção de um só poema. No entanto, optamos pelo brilhante Noturno da Parada Amorim:

O violoncelista estava a meio do Concerto de Schumann

Sùbitamente o coronel ficou transportado e começou a gri-
tar: - "Je vois des anges!  Je vois des anges!" -
E deixou-se escorregar sentado pela escada abaixo.

O telefone tilintou.
Alguém chamava?... Alguém pedia socorro?...

Mas do outro lado não vinha senão o rumor de um pranto
        desesperado!...

(Eram três horas.
Todas as agências postais estavam fechadas.
Dentro da noite a voz do coronel continuava gritando:
       - "Je vois des anges! Je vois des anges!")

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