quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

No passado dia 9 de novembro a nossa biblioteca dinamizou um oficina de poesia, VERSOS À SOLTA.

Vejam uma amostra dos poemas que os nossos alunos, professores e funcionários criaram a partir do primeiro verso de alguns poemas de poetas portugueses e de expressão portuguesa:

Chovia e vi-te entrar no mar
Admirei a tua coragem e
Senti o brilho do teu olhar.
Esperei que saísses  para
Te aquecer com um simples
Abraço, o nosso abraço…
Que alegria imensa
       
                       Ana

Eis o poema original:


Chovia e vi-te entrar no mar
longe de aqui há muito tempo já                                                     
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Mais tarde olhei-te e nem te conhecia
Agora aqui relembro  e pergunto:
Qual é a realidade de tudo isto?
Afinal onde é que as coisas continuam           
e como é que continuam se é que continuam?
Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos
a casa povoada o nome no registo
uma menção no livro das primeiras letras?
Chovia e vi-te entrar no mar
ó meu amor o teu olhar
o  meu olhar o teu amor
Que importa que algures continues?
Tudo morreu:  tu eu esse tempo esse lugar
Que posso eu fazer por tudo isso agora?
Talvez dizer apenas
Chovia e vi-te entrar no mar
E aceitar a irremediável morte para tudo e todos
                                          Ruy Belo, Através da chuva e da névoa, in Na Margem da Alegria




Se meu dinheiro não chega
Vou continuar a viver
Dinheiro não traz felicidade
Mas com ele podemos sobreviver.

Se meu dinheiro não chega
Desistir nem pensar
Vou lutar por um emprego
Para começar a ganhar.

                          Aluno anónimo

E agora o original:

Se meu dinheiro não chega
para sentir o prazer de dar
a quem não tem nenhum
então de que me serve
 de vez em quando dar algum?

Por isso, Maria, me chamas
numa ironia muito tua
Zé rei dos pobres.
               José Craveirinha, Se meu dinheiro não chega, in Maria



Com uma lente de aumento
E uma armada de neurónios
Ciência de alento
Acabaram-se os demónios!

Acabaram-se os cabos,
Os monstros do Escuro,
Com uma lente de aumento
A luz eu seguro
                                      Docente anónimo

Este é o original:




Com uma lente de aumento                                         
avidamente o tempo
sobre linhas de lábios omitindo
a língua no castelo
onde os dentes ao toque de outros lábios
como guardas de um símbolo hão-de
abrir-se
olhos na margem vendo-me,  cabelo
quase  abstracto prevenindo-me
do futuro das mãos por enquanto
retido
                                Gastão da Cruz, Com uma lente, in Rua de Portugal






Mudam-se os tempos
Mudam-se as vontades
Mudam-se os ventos
Mudam-se as tempestades.

Foge o fugaz tempo sem dono
Nega o homem o relógio
Vêm mais horas e parte para o sono
O homem infinitamente efémero

                                                                         Aluno anónimo

E, claro, o soneto de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.



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